"Uma longa viagem começa com um simples passo."

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Vivendo como um gringo!

Eu era o primeiro intercambista na casa, mas no dia seguinte uma chinesa desembarcou. Ela parecia muito mais perdida do que eu. Fui me apresentar a ela mas meu nome era impronunciável. Ela dizia: Petulo, Peto, Petul. Demorou um mês para sair Pedro da boca dela e das outras chinesas que chegaram depois.

Dois dias depois um amigo romeno me chamou para ir com ele para balada. É claro que eu fui. E diferente do Brasil, na Romênia não cobram a entrada para a maioria dos pubs. Portanto visitamos diversos pubs até as 6 horas da manhã. Bebi até dizer chega. E no caminho de volta pra casa uma cigana se ofereceu para nós. Por um pouco de dinheiro ela prometia fazer... Bem, você sabe o que ela estava pronta pra fazer. Gentilmente recusamos a oferta.

Os dias foram passando, a reforma na casa foi concluída e em duas semanas a casa estava cheia. Eram 18 pessoas de 11 países diferentes: Estados Unidos, China, Tunísia, Ucrânia, Malásia, Argentina, México, Colômbia, Índia, Singapura e é claro, Brasil (éramos 4 brasileiros).
Eram 4 quartos na casa: 1 para os meninos que somavam 8, e 3 quartos para as meninas que juntas eram 10. Tínhamos dois banheiros minúsculos, uma cozinha com espaço para três pessoas, e um balcão com 5 cadeiras onde fazíamos as refeições.
Talheres, pratos, copos e panelas eram escassos. Nos revesávamos para cozinhar e para comer. Conforme o tempo vai passando você acaba se tornando mais amigo de uns do que de outros. Meu grupo de melhores amigos era formado pelo mexicano Diego (esse é amigo pra vida toda), pela argentina Carolina (minha irmã do coração. Visitei ela em Buenos Aires poucos meses depois), o brasileiro Guilherme (talvez o cara mais correto da casa), a nordestina Bruna (trouxe o calor de Recife) e for last but not least, Marcela (minha mamãe romena. Ficamos doentes juntos e ela como uma boa mãe fazia sopa pra gente ficar melhor). Nosso grupo acabou tendo o nome de Latinos.

Bom, enquanto nosso projeto não começava, nós saíamos para conhecer a cidade.

Fomos a bares, pubs, feiras e experimentamos as comidas de rua. Que delícia! Os famosos "Kebabs" se espalhavam pela cidade. Era uma massa, tipo panqueca, recheada com repolho, frango, bata frita, cebola e diversos tipos de molho. Não custava nem 5 reais. Muito melhor que qualquer fast-food por aí.
Quando andávamos de metrô as pessoas não tiravam os olhos da gente. Imagine só um monte de gente de vários países falando muitas vezes em várias línguas. Não tem como passar sem ser notado.


Não posso reclamar da recepção dos romenos. Sempre atenciosos e prestativos. É claro que como toda regra existe uma exceção: não consigo esquecer quase todas as vezes que íamos ao mercadinho perto de casa, o segurança sempre nos acompanhava dentro do mercado para ver se não iríamos pegar nada "emprestado".

Depois de explorar as redondezas, resolvemos fazer uma viagem mais longa. E quem vai a Romênia não pode deixar de ir até a Transilvânia e fazer uma visita ao Conde Drácula. Combinamos então de encarar algumas horas de trem e desembarcar na casa do chefe dos vampiros.
Pegue seu lugar no trem, agarre um punhado de alho, uma estaca e crie coragem, pois nosso próximo encontro será com uma das figuras mais horripilantes das últimas décadas.
Se você está interessado em saber como tomar um café com o querido Conde, fique ligado no blog.

domingo, 2 de agosto de 2015

Cheguei!

Meu intercâmbio começou ainda no Brasil, quando eu entrei em um avião enorme de origem alemã onde uma comissária de bordo me atendeu logo dizendo: "O senhor gostaria que eu falasse em inglês?" (já dizendo isso em inglês), "ou prefere falar em alemão?" (nem preciso dizer em que língua ela falou).
A viagem foi longa, mas a excitação do que estava por vir não me deixou dormir. Passei a noite viajando mas quando amanheceu e eu olhei pela janela, me deparei com nada menos que os alpes que se estendiam pela Itália, Alemanha, Suíça, Áustria. Que cena lina. Aquelas montanhas cobertas com neve e no meio do nada algumas casinhas. Me deu vontade de ficar por lá.
Após 12 horas desembarquei em Munique - Alemanha. 4 horas de espera me deu tempo suficiente para dar aquela treinada no inglês ainda dentro do aeroporto. Minha vontade mesmo era de praticar o alemão: eu tinha estudado a língua por um ano e meio, mas bastou eu chegar na Alemanha pra eu ter noção de que eu não sabia nada.
Quando entrei no avião que me levaria ao meu destino final, Bucareste - Romênia, o frio na barriga começou. Quem estaria lá me esperando? Como vou passar pela imigração? Será que minhas malas foram extraviadas? O que é exatamente ser um estrangeiro?

Fiquei 15 minutos sendo "entrevistado" pelo policial federal. Devo confessar que o inglês dele era péssimo, o que dificultou um pouco nossa conversa. Tudo correu bem e minhas malas estavam ali.

Bom, malas em mão, entrei no país, e lá estavam duas desconhecidas com meu nome escrito em um papel branco. Elas me perguntaram se eu queria ir para casa de táxi ou de transporte público. O termômetro naquele dia marcava zero grau. Eu não estava afim de esperar por um transporte público. O taxista era maluco, sem contar o trânsito da cidade que era caótico. Eles costumar dizer que é uma bagunça organizada, e eu acredito. Eu cheguei às 4 da tarde, mas o inverno europeu não é famoso por ter sol. A noite já cobria a cidade. No caminho do aeroporto até a casa que eu ficaria hospedado eu me dei conta de que estava de fato na Europa. Passei pelo arco do triunfo e arrisco a dizer que é tão lindo quanto ao de Paris.
O taxista parou e as meninas disseram: "chegamos". Paguei "60 lei" pela corrida. Leu Romeno - essa é a moeda. Um Leu, dois lei. 1 real comprava  1,4 lei mais ou menos. Bom, ali estava uma casinha de dois andares com um Ford Ká, daquele primeiro modelo, na garagem. O dono da casa morava no térreo, e eu ficaria no andar de cima. Eram duas casas mesmo, uma no topo da outra. Entrei e vi dois homens que aparentavam ter uns 30 anos. Elas me explicaram que eu era o primeiro estudante na casa e que aqueles eram os pedreiros que estavam terminando de reformá-la.
A primeira coisa que me chamou atenção era o forno do fogão estar aberto e aceso. O aquecedor estava com problema por isso tiveram que improvisar uma lareira.
As meninas me perguntaram se eu estava cansado ou se eu tinha ânimo para ir até o escritório da agência de intercâmbio para me apresentar ao pessoal de lá. É claro que eu fui. Eu queria conhecer a cidade inteira naquela noite.
Fomos de metrô. Quando chegamos eu logo descobri: aquele pessoal era apaixonado pelo Brasil. Tive a melhor recepção que alguém poderia ter. Me pediram para contar da viagem e até para ensinar o português. Passei duas horas por lá e fomos todos depois tomar uma cerveja no High Life Bistro. Meu Deus! Eu não acreditava que estava no velho continente tomando uma cerveja com pessoas que eu nunca tinha visto na vida.
Antes de viajar é claro que eu pesquisei sobre o país e li que é permitido fumar em locais fechados. Até mesmo dentro da Pizza Hut. O que eu não sabia é que quase todo mundo do país fumava. A fumaça do cigarro se misturava ao cheiro da cerveja e ao delicioso aroma da comida que estávamos comendo. O cigarro no país é caro, por isso é muito comum eles comprarem o fumo e enrolarem seus próprios cigarros.
Algumas horas se passaram e um romeno que falava português se ofereceu para me levar de volta pra casa. No caminho paramos em um mercadinho, afinal de contas eu precisaria comer algo na manhã seguinte. Comprei um suco de cereja, um salgado assado e um pacote de semente de girassol (é comum comer isso por lá).
Uma hora da manhã. Eu me deitei na cama e não conseguia acreditar que eu estava ali. A qualquer hora parecia que eu ia acordar de um sonho. Eventualmente o cansaço misturado com a cerveja me fizeram pegar no sono. Na manhã seguinte eu acordei e percebi que aquilo tudo era real. E que só estava começando.


O To Sem Rumo acaba de desembarcar na Romênia. Te muita coisa para acontecer. Se quiser acompanhar essa história, fique ligado.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Tá na hora de embarcar


Onde paramos da última vez? Ah sim. Meu pai estava disposto a me ajudar. Meu destino tinha mudado. O sonho estava acontecendo. Mas, antes de chegar o dia da viagem, muita coisa ainda aconteceu.

Eu tinha um contrato de estágio que se encerraria em novembro. Era órgão público: sem chances de ser efetivado. Não poderia ter sido melhor. Aquela era a hora de viajar.
Agosto de 2013 e um grande amigo que sempre conversava comigo sobre sair do país estava em contagem regressiva para ir embora. Ele tinha conseguido a bolsa do Ciência Sem Fronteiras. O sonho estava acontecendo para ele, e estava cada vez mais perto de começar para mim.
Eu, para ser sincero, tinha gastado um pouco da grana que guardei para o intercâmbio. Precisava de algo mais barato e as agências de intercâmbio, em sua maioria, oferecem preços altos para programas de curta duração. Cheguei a cogitar a passar dois meses na pequena cidade que meu amigo tinha ido. Próxima de Chicago, Estados Unidos. Concluímos que essa não era a melhor opção.
A busca por uma agência de intercâmbio tinha começado. Procuro daqui e dali e achei: AIESEC (essa merece um post inteiro só pra ela). A proposta era a seguinte: trabalho voluntário em países mais pobres (aqueles que ninguém pensa em passar as férias ou a lua de mel). O programa oferecia acomodação gratuita pelo tempo que eu passasse lá. A taxa de inscrição era barata, e eu tinha que pagar apenas a passagem (meu pai pagou) e alimentação.
Fechei contrato com a agência e precisava procurar uma vaga de trabalho voluntário pela plataforma online que eles ofereciam. O sistema era simples: você filtrava sua busca pelos países e data de disponibilidade, uma série de programas iriam aparecer e você se candidatava para eles.
Sonhava com a Europa. Eu queria ir para Budapeste, capital da Hungria (cheguei a ir pra lá mas não foi dessa vez). Budapeste tem uma das melhores vidas noturnas do mundo. E isso quem diz são as pesquisas. Eu, assim como muitos outros jovens, me encantei por essa ideia. Que lugar lindo. Vale a pena fazer uma pausa e procurar aí no google. Bom, me candidatei para dezenas de programas voluntários em Budapeste. Não tive resposta de nenhum. Que decepção. Eu não tinha uma segunda opção em mente, então decidi que iria procurar um projeto bacana, independente do país, mas desde que fosse na Europa.
Achei: desenvolver atividades com crianças e adolescentes de orfanatos. Além de ser um projeto legal, a vaga ainda oferecia acomodação e uma refeição por dia. Me candidatei e falei para o meu pai: "tem uma grande chance de eu ir para Bucareste, capital da Romênia!" "Ro o que?" Eu também não sabia explicar. Meu deus, que país era aquele. Fiz uma entrevista via skype com uma romena. Enquanto a resposta não chegava, uma galera da Índia viu meu perfil e começou a oferecer vagas para ir pra lá. E não é que eu me interessei demais. Fiz uma entrevista também. Eventualmente as respostas chegaram: passei nas duas. Romênia ou Índia? Europa ou Ásia? Romênia: castelos, pubs, neve, cerveja, muita badalação. Índia: caramba meu, é a Índia. Quantas oportunidades uma pessoa tem de ir pra Índia?!
Você arrisca um palpite pra onde eu fui? Aí vai uma dica. Naquela época eu era um cara muito boêmio e que literalmente queria curtir a vida adoidado. Preciso dizer pra onde fui? Ah, a Europa me fisgou muito fácil. Eu já me imaginava visitando aqueles pubs, passeando por castelos e entrando num trem e saindo dele em outro país. Me arrepia só de lembrar.
Contrato assinado. Romênia na cabeça. Passaporte em dia. Comprei minha passagem. Já era Outubro e a data de ida estava certa (01/12/2013). Provas e trabalhos da faculdade fizeram com que o tempo passasse sem que eu percebesse.
Chegou o dia. Meu coração ainda bate forte lembrando daquele momento. Em poucas horas tudo estaria diferente: o idioma, as ruas, os carros, as pessoas. Eu estaria diferente.
Despachei as malas, passei pelo controle de passaporte. Olhei no relógio e já era hora. Já era a hora de eu pegar um lugar na janela, respirar fundo e começar a me preparar para os melhores 62 dias que teria na minha vida!

Está interessado em saber como foi essa experiência? Fique ligado. O To Sem Rumo vai te levar para uma incrível jornada européia sem te tirar do sofá, e com direito a uma visita ao Conde Drácula lá na Transilvânia.

Essa semana tem mais por aqui. Um grande abraço e boa viagem.